O que realmente significa “céu”? E até onde você estaria disposto a ir para alcançá-lo? Essas perguntas são exploradas através da história de Cielo, um filme que conta a jornada de Santa, uma menina de oito anos, escrita e dirigida pelo cineasta espanhol Alberto Sciamma. Baseado no Reino Unido, Sciamma filmou na Bolívia e traz à tona a determinação da jovem protagonista, que se vê em uma aventura extraordinária após engolir um peixe amarelo brilhante.
Santa não apenas puxa um carrinho por vastas paisagens desérticas do Altiplano boliviano, mas também dirige um caminhão e cruza o caminho de um padre, policiais e um grupo de lutadoras indígenas. Sua motivação é profunda: o amor por sua mãe, o desejo de escapar de um pai abusivo e sua fé inabalável. O elenco conta com a novata Fernanda Gutiérrez Aranda, além de Fernando Arze Echalar, Sasha Salaverry, Cristian Mercado, Carla Arana, Juan Carlos Aduviri e Luis Bredow. O filme teve sua estreia mundial no Fantasporto, em Porto, Portugal, onde conquistou prêmios importantes, incluindo o prêmio do público e o de melhor cinematografia, atribuído a Alex Metcalfe.
Cielo está programado para estrear no Reino Unido durante o SXSW London, em 6 de junho, com uma segunda exibição no dia seguinte. Produzido no Reino Unido, o projeto envolveu Sciamma, John Dunton-Downer, Alexa Waugh e Bettina Kadoorie, em colaboração com a produtora boliviana Pucara Films. A Film Seekers atua como agente de vendas do filme.
A Inspiração por Trás da História
Em uma conversa, Sciamma compartilha que Cielo começou com duas imagens impactantes que o marcaram. “Eu tinha uma imagem muito visceral na minha mente de uma garotinha engolindo um peixe, e eu não sabia por que isso me fascinava. A outra imagem era de uma menina puxando um carrinho em uma paisagem desconhecida”, relembra. Essas visões o levaram a desenvolver um enredo que combina elementos de aventura e espiritualidade.
Durante o Mercado de Cinema Europeu no Festival de Cinema de Berlim, Sciamma teve a oportunidade de explorar a Bolívia através de fotos de amigos. “As paisagens eram incríveis e me inspiraram a escrever o primeiro rascunho do filme em poucas semanas”, explica. O filme aborda temas de fé e espiritualidade, utilizando simbolismos como peixes e o céu. “Embora eu não seja religioso, cresci em um país muito religioso e sempre me questionei sobre fé e o que realmente está acontecendo acima de nós”, pondera.
Um Filme de Amor e Redenção
Apesar de suas conotações espirituais, Sciamma não deseja que Cielo seja rotulado como um filme religioso. “É uma obra sobre amor, família e nossa incessante busca por redenção”, afirma. “Todos nós almejamos um lugar melhor, e essa busca é um sentimento universal.”
Uma Experiência Cinemática Única
A visão de Sciamma para o filme era criar uma experiência sensorial: “Eu queria que o público sentisse, em vez de apenas analisar. O filme deve evocar amor, mesmo nas situações mais intensas”, revela. A paleta de cores vibrantes, a música e os efeitos sonoros foram cuidadosamente projetados para proporcionar uma viagem hipnotizante ao espectador.
Após a exibição do filme em Porto, Sciamma ficou surpreso com a recepção: “Quando o filme terminou, eu estava sorrindo, pensando: ‘O que foi isso?’ Nunca analisei o filme durante a produção; foi só depois que percebi que precisava entender como explicá-lo”, compartilha.
O Talento de Fernanda Gutiérrez Aranda
Uma das grandes surpresas do filme é a performance de Fernanda Gutiérrez Aranda. Ela, que nunca havia atuado antes, foi selecionada após uma reunião via Zoom. “Ela é incrivelmente inteligente e já estava lendo livros avançados para sua idade”, conta Sciamma. O diretor a orientou a ser autêntica, evitando qualquer tipo de exagero. “Ela foi a atriz mais fácil com quem já trabalhei, pois sentiu tudo de forma genuína”, elogia.
Trabalhando com Lutadoras Indígenas
O filme também traz lutadoras reais, ou “cholitas”, que interpretam papéis que se aproximam de suas identidades. Sciamma descreve a experiência como divertida e leve. “Elas nunca haviam atuado, mas sua alegria era contagiante”, lembra. O tom de algumas personagens foi adaptado para refletir melhor suas personalidades reais, criando uma conexão mais profunda com o público.
Planos Futuros e o Legado de Cielo
Com a experiência de filmagem na Bolívia, Sciamma expressa seu desejo de retornar ao país. “A Bolívia é um lugar incrível, cheio de paisagens diversas e pessoas talentosas”, diz. Ele também está trabalhando em uma sequência de Cielo, que começará na selva, uma localização que foi apenas mencionada no primeiro filme. “Estou escrevendo uma continuação, pois sempre acreditei que a história não poderia terminar aqui”, conclui.
Cielo promete não apenas entreter, mas também provocar reflexões profundas sobre a vida, fé e a busca por um céu melhor.





Fonte: Hollywood Reporter